Qual o caminho para evitar uma nova crise no leite?

Qual o caminho para evitar uma nova crise no leite?

Qual o caminho para evitar uma nova crise no leite? O preço do leite pago ao produtor deve recuar em novembro. O setor, que ganhou certo fôlego neste ano, volta a temer problemas graves, já que os custos de produção também cresceram bastante em 2020.

“O que essa pandemia vai nos deixar é a elevação dos custos. A indústria também tem manifestado isso, como embalagens até 35% mais caras”, frisa o presidente do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Rio Grande do Sul (Conseleite-RS), Rodrigo Rizzo.

A forte estiagem que atinge o Sul do país nos últimos meses também vem prejudicando os produtores, que viram a disponibilidade de milho cair.

Rizzo conta que a entidade enviou um documento ao Ministério da Agricultura pedindo, basicamente, duas ações: de imediato, a aquisição de produtos lácteos pelo governo, sobretudo de leite em pó. Posteriormente, quando começar a colheita da safra de grãos, operações de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) e Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) para o milho.

“Fizemos contato com a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento]. Eles receberam o documento e estão estudando uma resposta. Na semana que vem, a ministra [Tereza Cristina] vai conversar com a Conab para entender o quadro e, a partir daí, dar uma resposta aos produtores”, conta Rizzo.

Importações de leite do Mercosul

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) pediu ao governo federal que estude interromper a importação de lácteos, para dar estabilidade ao produtor brasileiro. O presidente do Conseleite-RS defende a medida. “É importante, em determinados períodos do ano que em temos dificuldade, que isso seja feito”, afirma.

O comentarista Miguel Daoud não acredita que seja uma boa solução, pois os outros países podem retaliar bloqueando a importação de outros produtos brasileiros importantes para a economia.

Para Daoud, o governo federal precisa usar as políticas públicas para organizar o mercado. “Comprar leite in natura e criar programas para a população pobre. O Nordeste tem uma demanda muito grande! Tem que usar os instrumentos de política pública para dar estabilidade aos preços. Mas eles [o governo] não têm visão de longo prazo”, diz.

Segundo o comentarista, é preciso que o Brasil defina o que espera da agropecuária e institucionalize o que for necessário.

Fonte: Canal Rural

Argentina dobra exportações de lácteos para o Brasil

Argentina dobra exportações de lácteos para o Brasil

O surgimento de uma nova onda de contaminações por Covid-19 na Argentina, alçando o país ao indesejável grupo dos dez países com mais casos da doença em outubro, tem tirado o sono dos produtores brasileiros de leite.

Com seu mercado interno fortemente atingido pelas medidas de isolamento social decretadas para tentar conter o avanço da doença, a indústria argentina de lácteos passou a escoar o excedente da sua produção para o Brasil. Só em outubro, o volume importado foi 121,5% maior que no mesmo período do ano passado, atingindo 14,4 mil toneladas.

“Em setembro, chegamos a importar o equivalente a 7% da produção brasileira e isso desequilibra o mercado. Não que os volumes sejam tão grandes, mas eles desequilibram a situação de oferta”, conta Ronei Volpi, presidente da Câmara Setorial do Leite e Derivados, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Embora no acumulado do ano as importações brasileiras de lácteos estejam praticamente em linha com o ano passado, Volpi explica que o aumento das importações argentinas ocorreu justamente no período de maior produção nacional, quando os preços aos produtores já tendem a cair.

A situação levou a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) a pedir, na semana passada, que o governo brasileiro intervisse temporariamente nas importações brasileiras de lácteos. Restam, contudo, poucas ferramentas para essa intervenção, dado que mais de 90% das importações ocorrem de países do Mercosul – caso da Argentina, que respondeu sozinha por 64,5% das importações brasileiras de lácteos em outubro.

“Em setembro, a diferença entre o preço no mercado interno e o preço internacional era de 40%. Em outubro, caiu para 25% e, na primeira semana de novembro, já chegou a 19%”, relata Marcelo Martins, diretor executivo da Associação Brasileira de Laticínios (Viva Lácteos), ao lembrar da forte alta nos custos de produção no país, acompanhadas pelo preço pago ao produtor.

Se de um lado os custos subiram na esteira da desvalorização do real e dos preços recordes do milho, para a demanda a previsão é de uma queda no início do próximo ano, quando 43,6% dos municípios brasileiros deixarão de receber o auxílio emergencial pago pelo governo.

Com isso, os produtores afirmam que o aumento das importações neste momento tende a criar uma “oferta artificial excessiva” no mercado interno, comprometendo as margens ao ponto de inviabilizar a produção nacional.

“O pessoal não está chorando por um movimento qualquer. Realmente, a situação está bastante complicada, principalmente para os produtores daqui do sul do Brasil porque isso já vem de um período desde 2019, com problemas nas condições de pastagens e custos mais altos”, explica Darlan Palharini, secretário executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat).

Ele ressalta que, assim como os produtores, a indústria é favorável a uma possível intervenção do governo para conter as importações, mas reconhece que a medida não é uma opção viável. “O Sindilat é favorável à imposição de tarifas porque acredita que as importações precisam ser planejadas, mas o Mercosul é um acordo de livre mercado. Não tem como estabelecer isso”, aponta Palharini.

Pressão política

No dia 6 de novembro, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) enviou ofício ao Ministério da Agricultura pedindo medidas emergenciais para conter a forte redução nas margens dos produtores no segundo semestre deste ano.

Segundo a entidade, “há forte tendência de pequenos e médios produtores venderem seus animais para o abate devido aos altos preços da arroba ou mesmo saírem da atividade, o que ocasionará problemas sociais no campo e menor oferta de leite para o próximo ano”.

“Essa questão do grão fugiu a qualquer previsibilidade e se alinha ao documento da CNA, tentando fazer leilões de grãos, alguma política, talvez, tributária que possa amenizar este impacto. Senão, realmente podemos ter uma situação social bastante agravada na produção de leite, com abandono da atividade”, conclui Palharini.

 

Fonte: Revista Globo Rural

Setor lácteo vive momento de incerteza

Setor lácteo vive momento de incerteza

Setor lácteo vive momento de incerteza com grandes dúvidas sobre o desempenho da oferta e da demanda nos próximos meses.

No lado da demanda, o desemprego elevado, a redução da ajuda emergencial do governo e as fracas exportações, indicam desaquecimento do mercado. Somente não se sabe, ainda, sua força ou sua dimensão. Mas isso já se faz sentir nos preços do atacado.

Em maio, os preços diários dos produtos lácteos começaram um movimento de valorizações, atingindo seu pico em setembro, quando começaram a recuar. Nesse período, o preço do leite em pó fracionado aumentou 44,2%, seguido de queda de 6,7%. O queijo muçarela aumentou 77,2% e após recuou 14,5%. O UHT aumentou 46,5% e recuou a seguir 21,9%. Contudo, nesta segunda semana de novembro, o UHT apresentou recuperação nos preços, indicando a existência de um processo ainda inacabado de ajuste na demanda.

No lado da oferta, além da entressafra, a produção foi negativamente afetada por seca em algumas regiões, alta nos custos de produção e redução da importação no primeiro semestre. A busca por matéria prima se acirrou de tal forma que alguns pequenos e médios laticínios não puderam honrar compromissos de venda de produtos por falta da matéria prima. Com isso, o preço do leite no mercado spot aumentou 101,5% de maio a setembro, refletindo o aquecimento da demanda e a redução da oferta.

A partir da segunda quinzena de setembro, os preços do leite spot apresentaram nova dinâmica e recuaram 28,6%. Esta busca por matéria prima levou a forte valorização dos preços pagos aos produtores. De maio a outubro os preços médios pagos aos produtores no Brasil subiram 56,6%, atingindo em outubro R$2,16/litro.

Aplicativo de Coleta de Leite

Outra variável que explicou o aumento dos preços do leite foi a forte alta da taxa de câmbio que diminuiu a competitividade das importações. Contudo, as importações em 2020 vêm crescendo de forma sistemática desde maio e superou a média mensal observada em 2019 a partir de julho.

Os volumes importados em setembro e outubro ficaram próximos de 180 milhões de litros equivalente, o que representa cerca de 8,5% da produção inspecionada mensal, caracterizando força importadora neste segundo semestre. Essa internalização de leite pode afetar os preços domésticos com prejuízos aos produtores que enfrentam, ainda, aumento do custo de produção do leite, advindo do aumento dos preços de insumos básicos de produção como soja e milho.

Mas quais as perspectivas para 2021? Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia mundial deve crescer 5,2%, o Brasil 2,8%, China, 8,3% e a Ásia 8,0%.

O crescimento esperado, notadamente da Ásia, indica mercado comprador para produtos brasileiros (grãos e carnes), podendo implicar novo e mais alto patamar de preços para milho e soja (Figura 1). O boletim Focus de 06 de novembro prevê o dólar a R$5,20 em 2021, indicando que importações de lácteos podem também se estabelecer em patamares mais altos, dependendo dos ajustes de preços em curso no mercado.

Esse cenário com demanda interna reprimida, exportações fracas, aumento do custo de produção, redução dos preços pagos aos produtores e importações elevadas, podem significar fortes desafios para a cadeia agroalimentar de lácteos em 2021. Isto exigirá melhor coordenação da cadeia, gestão para maior eficiência dos sistemas de produção, redução do custo Brasil e esforços para aumento das exportações. Como se vê, o mercado está em processo de ajustes trazendo incertezas, mas também oportunidades, todas sensíveis às ações proativas dos agentes da cadeia de valor.

 

Fonte: CILeite

 

Perspectivas da exportação de lácteos em 2021

Perspectivas da exportação de lácteos em 2021

O USDA, em seu relatório anual de lácteos da União Europeia (UE), estimou que as entregas de leite da UE em 2020 crescerão 1% em relação a 2019 devido à demanda contínua de exportação de produtos lácteos doméstica estável e intervenções no mercado introduzidas pela Comissão Europeia em junho de 2020.

Espere-se que os processadores de laticínios aumentem a produção de queijo, manteiga, leite em pó integral e leite em pó desnatado devido ao aumento na captação de leite. A produção de queijo em 2020 aumentará em relação a 2019 devido a uma maior demanda de exportação.

O número de vacas leiteiras continuará diminuindo em 2020 e 2021, seguindo uma tendência de rebanhos menores e animais mais produtivos. No entanto, a produção de leite não será afetada negativamente, pois um melhor manejo do rebanho, incluindo genética de alta qualidade, aumentou a produção de leite e pode compensar o menor número de animais.

A agência estima que em 2020, o consumo doméstico de manteiga, queijo e leite em pó integral permanecerá aproximadamente o mesmo que em 2019, enquanto o consumo de leite em pó desnatado diminuirá a partir de 2019 e retornará aos níveis médios históricos. Em 2018 e 2019, o consumo de leite em pó desnatado foi “artificialmente” alto após a liberação de estoques de intervenção pública no mercado.

O consumo de leite fluido em 2020 aumentará porque a Covid-19 mudará temporariamente as tendências de consumo. Contudo, é prevista uma diminuição em 2021, à medida que a mudança para outros produtos lácteos e substitutos do leite será retomada. O USDA prevê que o consumo de queijo e manteiga em 2021 aumentará com o aumento da produção.

Expectativa para o setor lácteo em 2021

O consumo de leite em pó integral e desnatado se estabilizará. De acordo com o Milk Market Observatory (MMO) em agosto de 2020, o preço do leite cru na UE foi de €32,7 (US$ 38,6) por 100 quilos, 3% abaixo de agosto de 2019. Embora os preços do leite na fazenda tenham caído de janeiro a junho de 2020, os preços se recuperaram desde julho.

Em 4 de outubro de 2020, o preço do queijo (cheddar) EU27 + UK estava 3% acima de outubro de 2019, enquanto os preços de leite em pó integral, manteiga e leite em pó desnatado eram 8%, 5% e 5%, respectivamente, inferiores aos preços de outubro de 2019.

A agência estima que as exportações de queijo em 2020 continuarão crescendo devido à forte demanda global. Apesar dos problemas da cadeia de abastecimento e da queda temporária na demanda do setor de serviços de alimentação após a Covid-19, as exportações de queijo, manteiga, leite em pó integral e leite fluido aumentarão a partir de 2019.

Estima-se que as exportações de leite em pó desnatado em 2020 diminuirão a partir de 2019 devido à menor demanda prevista de China e Sudeste Asiático e a decisão da UE de liberar seus estoques de intervenção pública de leite em pó desnatado em 2019.

Fonte: MilkPoint

Abraleite pede intervenção temporária nas importações de lácteos

Abraleite pede intervenção temporária nas importações de lácteos

A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) publicou nota pública nesta sexta-feira, 6, pedindo que o governo federal implemente uma intervenção temporária nas importações de lácteos. A ação classificada como urgente seria justificada em razão de significativas importações de produtos da categoria realizadas nos últimos meses.

“Dados da Secex mostram que o volume importado no segundo trimestre de 2020 foi 62,8% maior que no mesmo período do ano anterior. Já em setembro, a importação foi 80% superior a 2019 e outubro deve bater o recorde de leite importado desde 2007”, informou a entidade na nota.

A Abraleite argumenta que o momento é extremamente delicado para o setor nacional de leite e derivados, com aumento de custos dos principais insumos, especialmente os alimentos concentrados.

“O Cepea [Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada] aponta para o maior valor nominal da saca de milho desde 2004 e, para o farelo de soja, os preços da primeira quinzena de outubro superam em expressivos 84,6% o valor do mesmo mês em 2019”, diz o texto.

A nota informa ainda que a valorização do leite nos últimos meses teria sido fundamental para equilibrar a relação de troca com esses insumos. “Porém a queda recente do preço pago ao produtor inviabiliza a produção de leite e causa impactos financeiros irreversíveis aos produtores rurais”.

O comunicado diz também que está sendo criada a “tempestade perfeita” para o desmonte na cadeia pecuária de leite. Os motivos que levariam a isso seriam a “oferta artificial excessiva” de leite importado, a queda de renda do consumidor com a redução do auxílio governamental, o aumento de impostos e a alta do valor dos insumos.

Alta dos insumos

Também nesta sexta, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) protocolou ofício junto ao Ministério da Agricultura solicitando medidas para conter a alta dos custos na pecuária leiteira.

No documento, a exemplo da Abraleite, a entidade ressalta que a maior preocupação é com o valor da ração concentrada, que representaria, em média, 40% dos desembolsos do produtor de leite.

Fonte: Canal Rural